Zare ferragi
Quando penso em meu propósito de conectar pessoas e lugares, com profundidade, arte e leveza, para a construção de uma sociedade mais consciente e solidária, penso no quanto faz sentido trazer mais da Etiópia ao Brasil. Fui pra lá em 2015, a caminho do Japão, e o que era um stopover de 10 dias se converteu numa experiência memorável. Foi justo quando minha avó Vanda faleceu, simbolicamente quando eu visitava a avó de todos nós - Lucy, o fóssil que reescreveu a história da humanidade - no Museu Nacional da Etiópia. Foi uma viagem espiritual, de descoberta da própria subjetividade, e por essa e tantas outras razões foi uma jornada maravilhosa, que trato de expressar com minhas fotos e textos ao longe deste ensaio. Conheci muitas sabedorias ancestrais. Encontrei um país rico culturalmente, orgulhoso de si, antigo, com culinária estimulante, música de primeira, e história marcante. Um dos poucos no continente africano que nunca foi colônia da Europa. Lutou e venceu, contra a Itália, as ganas da colonização. (Apesar de uma breve ocupação por Mussolini durante a segunda guerra mundial). Assim como o self, que não é colonizado pelo ego, a Etiópia tampouco o é. Esta lá, prístina do jeito que é. Oferta ao visitante um contato primordial com os elos de nossa origem. Aquela que é uma coleção não apenas de fósseis, mas também de símbolos, que retratam a nossa história, humana... algo de todos nós.
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TERHAS BERHE
Nasci em Adis Abeba, Etiópia, em 1987. Durante minha primeira infância, viajei muito com minha família para belas regiões da Etiópia. A partir dessas experiências me apaixonei pela paisagem e pelo rico patrimônio que existe dentro e fora da capital. Depois do colégio, busquei e concluí o bacharelado em ciência da computação em 2008. Foi durante meus estudos de graduação que gradualmente percebi que meu interesse estava principalmente nas artes. Comecei a fazer workshops de teatro, cinema, pintura, jornalismo e fotografia. Meu estudo das artes ajudou a aumentar minha curiosidade e interesse em encontrar maneiras inovadoras de explorar e documentar minha comunidade. Comecei meu trabalho fotográfico profissional como voluntário em ONGs locais e internacionais em vários programas infantis que usavam arte para reabilitação. Hoje, estou trabalhando na minha própria empresa, Arbol Pictures, como fotógrafa e cineasta em colaboração com diferentes ONGs como UNICEF, União Europeia, Menschn for Menschn (MFM). Fui chefe do departamento de fotografia da Culture and Arts for Ethiopia ( CAFE) também trabalho em eventos e comunicação Adika como assistente de direção de diversos videoclipes, além de filmes e documentários, fui assistente de direção do filme LAMB e The Ethiopian que faz sucesso internacional. Também expus meu trabalho no Instituto Goethe, fórum econômico mundial, Teatro Nacional, Museu Nacional, lafto moall, hotel Radisson blu, Centro de Capacitação e Recursos (RCBC) Comissão Econômica para a África (ECA) em Addis Abeba, Etiópia e o Nova Escola de Fotografia em Berlim, Alemanha. Encontrei minha musa criativa por meio da fotografia e do cinema e estou ansiosa para compartilhar minha visão de novas e poderosas imagens e histórias da Etiópia.
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Aléxia Canavezzi
De vivências em vivências, de tempos em tempos, nos descontruímos e construímos a todo momento. Entrei no curso de Turismo na UFSCar - Sorocaba em 2019 e desde então, a vertente antropológica dentro da nossa área de pesquisa me agrada muito. Sempre tive muita afinidade, sensibilidade e uma verdadeira paixão pela arte e como ela se manifesta através de cada cultura com suas particularidades e técnicas. Me senti muito contemplada e desafiada por esse projeto, onde descontruímos perspectivas generalizadas e construímos perspectivas reais - essas que são concretizadas em fatos, dados, estudos e pesquisas. Hoje em dia, não dá mais para aceitar atitudes prepotentes em nome de uma "solidariedade" doentia que prega a perpetuação do próprio ego para manter seu nome no "ranking das boas ações". Devemos manter um olhar solidário que não subestime a realidade ou a capacidade do próximo mas sim, um olhar que promova equidade as nossas relações. Esse projeto além de trazer um olhar sensível, traz um olhar de empoderamento à Etiópia. De um país que nunca foi colonizado, de um país que tem seu próprio horário, seu próprio calendário e que é o berço da humanidade. Propomos então um projeto que é um abraço, uma reconciliação e uma proposta de reflexão. Por que conhecemos o Brasil a partir da perspectiva da colonização Europeia?
Mais importante que ser "desconstruído", é ser reconstruído. Com novos valores, ideais, estudos, reconhecendo nosso berço, nossas reinvindicações e dando visibilidade àqueles que realmente precisam. |
Gabriel Cherle
Calouro da turma de 2020 no curso de Turismo, sempre fui apaixonado por cultura e comunicação. Poder aprender mais sobre nossos mundos e entender as diferenças e semelhanças que compartilhamos com outros povos sempre foi de grande inspiração para mim.
Ingressei na UFSCar com foco em participar do maior número de projetos de extensão possíveis e encontrei no projeto Rostos Etíopes a oportunidade de quebrar ainda mais minha visão de mundo, abrindo meus horizontes para uma parte da África que ainda não possuía conhecimento. A Etiópia me conquistou não só pela história forte e inspiradora, como também pela cultura e paisagens. Poder compartilhar o conhecimento obtido neste projeto com a comunidade é uma grande honra, trazendo tantas semelhanças que possuem com o Brasil e sendo a Etiópia o berço da civilização. |
Raul Amorim
Estudante e educador, militante da felicidade e justiça social. Acredito firmemente no poder da arte e da cultura para criar uma outra realidade possível, e que o caminho para essa realidade é forjado em sonhos construídos por muitas mãos. Nascido e criado em Sorocaba, no interior de São Paulo, vivo para encontrar pessoas por aí dispostas.
Trabalho com Educação de Jovens e Adultos, com metodologias participativas e políticas de juventude. Atualmente trabalho como professor da rede pública e atuo no Levante Popular da Juventude, um movimento social nacional de organização da juventude nas periferias, escolas e no campo. Desde meu primeiro ano na UFSCar me insiro em projetos de extensão, pois acredito que a principal função da universidade é transformar a realidade. Projetos com agroecologia e agricultura familiar, comunicação não-violenta, e durante a pandemia com produção de álcool em gel para doação a equipamentos públicos de saúde. Me envolvi com o projeto Rostos Etíopes através do Zare, com quem já trabalhei anteriormente. Vi no projeto uma oportunidade de questionar o olhar comum, colonizado, que habita o imaginário popular sobre a África e sobre a Etiópia. Foi um espaço onde eu pude me desafiar a olhar as contradições de um país diverso e que passa por instabilidades nesse momento. Um projeto coletivo em todas as suas etapas, da seleção das imagens à construção de estratégias para criar uma exposição fotográfica em tempos de pandemia. E por fim, um projeto que permitiu olhar para um território muito antigo, o berço da humanidade e o teto da África, que desde sempre resiste e constrói seu próprio destino. Num mundo onde a narrativa da história pertence aqueles que querem manter seu domínio cultural sobre todos, encontrar preciosidades assim nos humaniza e nos emociona. |